Capítulo 4
“Consigo sentir-te”
“Amar, o que é isso amar? Sento-me uma inútil, preenchida pelo arrependimento de ter acordado nesta manhã, coberta pelo choque, e quando realmente me convenci de que realmente te tinha perdido, afoguei-me no enorme vazio que sentia, e que doía mais que qualquer outra coisa. Uma explosão de lágrimas que lavava a minha cara. Agora, penso no que será de mim, pergunto-me se esta dor será para sempre, só me consigo imaginar a folhear páginas de livros que leste, tocar e cheirar roupas que vestis-te, passar a ponta dos dedos nos móveis de tua casa. Perdi o rumo, e vou conforme o vento sopra, sinto-me rasgada, despedaçada, perdida nas memórias que me esforço por ver e rever, para nunca as esquecer, sinto-me dominada pela cruel verdade de que nunca mais te terei a meu lado.” – apenas palavras escritas numa folha de papel, me ajudariam a deitar tudo cá para fora.
O pensamento era forte, mas descrevia o que sentia, o pensamento era profundo, mas descrevia o que me doía.
As lágrimas sólidas começaram a cair-me de novo e a caiarem no chão, mas desta vez o chão era diferente, era um chão macio de madeira esse chão não tinha a presença de Jack, mesmo sendo um Jack frio como o de ontem, Gostaria que nele estivesse aqui. E ai começou aparecer um silêncio desconfortável que me sufocava nas suas garras frias e fortes. Esse tal silêncio obrigou-me a andar em frente; pé ante pé.
E comecei a viver os dias assim, pé ante pé.
O resto era apenas história, já não sonhava, não desejava, nem me prendia a ninguém. Apenas pé ante pé. Não amava, não sorria, nem sequer queria algo. Apenas pé ante pé.
A esperança de o voltar a ver tinha sido destruída em montes de pedaços e nem lembrar-me do seu maravilhoso sorriso me fazia recolocar esses pedaços.
A vontade de chegar ao pé de Susan e gritar, chorar e pedir consolo era cada vez maior… queria dizer-lhe tudo isto, mostrar as palavras que tinha escrito.
Mas será que ela me iria entender? Não, muito provavelmente não. Não iria entender isto. Ela apenas vivia no seu mundo de fantasias, verniz e diários.
******
O sofrimento continuava a ser constate. E o meu peito pesava como o chumbo. Continuava a respirar com aquela inalterável sufocação.
Mas um dia, um sóbrio dia aconteceu algo que nunca imaginai acontecer, quanto mais a mim!
Estava sentada a pensar no vazio sem cor, quando dentro desse vazio ouço um suplicar. Não era bem suplicar, era algo como se o pequeno sussurro dentro do vazio se explica-se a si mesmo algo incompreensível.
– Quero aqui estar? É óbvio que não! Eu quero estar lá para a abraçar e dizer que sou seu… Talvez seja verdade o que ele disse, talvez eu seja isso mesmo e não o possa fazer! Talvez o que eu pensava ser fosse apenas um anseio estúpido… Porque de cada vez que a sinto dentro de mim ela não faz nada, não tem nada para além do sofrimento!
Eu tentava ficar indiferente, mas como era algo assim possível!? Havia algo dentro de mim a falar. Quem poderia ser? Do que estava a voz a falar?
E no meio disto tudo veio-me uma dor incontrolável e horrivelmente poderosa vinda do meu peito. E a voz gritava tanto que achava que iria furar-me os tímpanos.
O que se estava a passar?
– Eu não quero isto!! – suplicava a voz – Parem eu quero poder fazer algo! É que me dói tanto…
A dor acalmou e eu respirava com dificuldade… O suar caía-me da cara a baixo. Levei a mão à cabeça e respirei fundo, enquanto na minha cabeça surgiam perguntas sem fim.
Fechei os olhos e organizei-as. “De quem era aquela voz?” foi a primeira pergunta a qual eu queria responder desesperadamente. Pus-me a pensar se conhecia aquela voz de algum lado, porque parecia-me bastante familiar. A voz era calma, fluida e grave, era uma voz de um rapaz, mas um rapaz novo.
Até que me veio à ideia de poder ser Jack… Ponderei nessa aposte e cheguei à conclusão que tinha razão. A voz que acabara de ouvir era a voz de Jack!
Sem comentários:
Enviar um comentário